O perito grafotécnico, além de comparar o documento supostamente falso com o supostamente autêntico, faz análises detalhadas da escrita, força no papel, os padrões que dão origem às formas, as proporcionalidades além de uma série de detalhes que não são para qualquer um perceber...
No início do século XX, um estudo ganhou força baseando-se no princípio de que o cerébro é o responsável pelo gesto gráfico, ou seja, é ele que gera a imagem das letras e coordena o movimento do punho na hora de escrever.
Assim, não existe uma falsificação perfeita, pois não existem dois cerébros perfeitamente iguais. Para descobrir uma farsa o perito conta com vários instrumentos específicos, como lupas com grau de aumento, estereoscópios (um tipo de microscópio binocular), luz ultravioleta, raio infravermelho e negatoscópio (mesa com iluminação interna).
Na própria assinatura, são analisadas três conjuntos de evidências: as características genéricas, as características genéticas e os elementos da grafia. Além disso, marcas, manchas, borrões e colagens no documento podem fornecer pistas.
CARACTERÍSTICAS GENÉRICASSão os aspectos típicos da próprio processo de escrever
Comportamento gráfico (1)
É a direção e a distância da escrita em relação à pauta ou à base de apoio. Pode ser classificado como alinhado, ascendente, descendente, sinuoso e arqueado.
Proporcionalidade gráfica (2)
São as relações dimensionais entre as diversas partes da escrita. Por exemplo, no caso do “d”, analisa-se a proporção entre o tamanho da “haste” e o da “bolinha”.
Espaçamento gráfico (3)
Há três tipos. O interliteral é a distância entre as letras ou símbolos. O intervocabular, entre as palavras. E o intergramático, entre as gramas (traços) que formam uma letra.
Valores angulares e curvilíneos (4)
Indica a predominância de gramas curvos na escrita. São classificados em arcada, guirlanda e anguloso.
Inclinação axial (5)
É a inclinação dos eixos gramáticos das letras em relação à pauta. A dextrógira tende ir para a direita, a sinistrógira inclina para a esquerda e a vertical forma um ângulo de 90º.
Calibre (ao lado)
É o tamanho das letras. Pode ser classificado como pequeno (a altura das letras é igual ou menor que 3 mm), médio (entre 3 e 4 mm) e grande (acima de 4 mm).
CARACTERÍSTICAS GENÉTICASSão as propriedades típicas de cada pessoa
Pressão e progressão
Duas forças determinam a escrita. A vertical é a pressão da caneta contra o papel. E a horizontal (ou lateral) é o movimento da caneta sobre o papel, criando uma progressão.
Momento gráfico
É a trajetória do punho, que se transforma em gramas ou traços. Quando a caneta toca o papel e a letra é escrita, trata-se de um movimento positivo. Quando se afasta do papel (e o movimento não é grafado), chama-se de negativo.
Ataque e remate (7)
São o ponto em que o escritor começa e termina a escrita respectivamente, colocando e tirando a caneta do papel. Analisa-se, por exemplo, se há maior concentração de tinta no começo ou no fim, aumento de pressão ou uniformidade.
ELEMENTOS DA GRAFIASão os detalhes de cada letra, que cada pessoa desenha de um jeito
Traços complementares
O corte do “t”, o pingo do “i” e o cedilha do “ç” também podem dar indícios se a assinatura é original ou falsa.
OS TIPOS DE FALSIFICAÇÃOCada uma costuma deixar uma pista específica do crime
Sem imitação: Quando o falsificador “inventa” na hora o traçado, sem qualquer referência da assinatura original. É comum em cheques para terceiros.
De memória: O falsário tenta reproduzir, de cabeça, uma assinatura que já viu. Geralmente, foca nas letras maiúsculas, que, por serem maiores, chamam mais atenção.
Imitação servil: Quando a pessoa tem a assinatura original e tenta copiar, sem muito treino. Costuma apresentar retoques, tremores e interrupções.
Decalque: Além da assinatura original, o criminoso usa alguma técnica, como transparência ou carbono. Pode ter interrupções ou irregularidades rítmicas.
Exercitada: É a do falsificador expert, capaz de reproduzir quase todas as características do desenho original. Só peritos conseguem encontrar as falhas.
CONSULTORIA Orlando Garcia, perito grafotécnico e professor de grafotécnica, e Paulo de Salvo, perito grafotécnico e documental da Conpej-SP